Eu tenho muitos amigos nesta vida fora. Uns tantos, tenho-os aqui nas redes socias. A título exemplificativo, 570 militam comigo no Facebook. Outros, em foros de diversa índole. Trata-se, em parte, dos mesmos amigos da vida corrente que os congreguei nas viagens cibernéticas, numa vida inicialmente chancelada de virtual, mas que de virtualidade nada tem, pelo contrário é real, rápida e dá-nos um amplo leque de possibilidades de comunicar e interagir, partilhando vida e suas emoções. Surpreendentemente, de todos meus amigos, apenas 10 conseguiram juntar-se com prontidão excecional a recitação (protótipo deste texto) de indignação com relação à atuação da nossa PRM – Polícia da República de Moçambique.
Quero agradece-los, publicamente, tal como também o fizeram.
Fá-lo porque demonstraram coerência ao usar a via mais discreta, dando um
simples “clic” ao sinal, LIKE/GOSTO do STATUS/ESTADO em que me encontrava.
Alguns fizeram-no até por discurso simples, mas, quanto a mim, cheio de
significado. Kanimambo, mesmo de
coração. Agradeço, igualmente, aos que permaneceram em silêncio; o seu silêncio
tem valor comunicativo muito profundo. Pode significar revolta silenciosa, o
que é mais suspeito e mais perigoso do que falar publicamente. Aos que não
falam não se lhes pode dar a total confiança de inocência. Pelo contrário,
estão fartos da cumplicidade. Na verdade, os que se calam sem consentir giram
juntamente connosco nesta órbita de exaltação, neste grito cujo eco não cessará
antes que a polícia deixe de exterminar o povo inocente. Entretanto, diante de
um grito por socorro, uma atitude silenciosa é tão criminosa, quanto a PRM está
sendo contra o povo moçambicano.
1. NYANDAYEYO!!!... (SOCORRO!!!...)
Nyandayeyó é a expressão mais profunda de pedido de socorro. Não
se brinca por gritar, Nyandayeyó. Trata-se de uma voz carregada de vozes, de
lágrimas, de desespero, de medo e agonia. É a força mais natural, tradicional e
expressivamente profunda de acionar o alarme de emergência pedindo caridade às
autoridades, ao sistema, para que cesse os tormentos, as mortes violentas. Só
que, contrariando o que é tradicional atualmente nas comunidades moçambicanas,
a resposta não aparece. Mas ela devia ser imediata.
O sentido antropológico do Nyandayeyó está a ser adulterado,
não sei por que razão! Os meus vizinhos, as pessoas de boa vontade, e outras
gentes deviam afluir com todas as suas forças e meios, tal como era suposto que
a PRM, os Bombeiros, ambulâncias, aparecesse para se inteirarem e ajudar até
que se alcance o, CESSANTE CAUSA, CESSAT EFFECTUS. Só que, ultimamente, algo
estranho acontece. Ninguém responde ao Nyandayeyó. Isso não simboliza a utopia
de uma sociedade sã? Não há Unidade, nem solidariedade! As pessoas morrem
diante da nossa cumplicidade. Será que não sentimos a culpa da indiferença?
Quando se grita Nyandayeyó, as pessoas pensam que o problema é dos outros,
ficam indiferentes e, nalguns casos, a indiferença faz-se com alegria e festa.
Isso cria-me raiva e indignação. Muitas almas enganadas. Só que tanto os que se
calam, como os que festejam precisam saber uma verdade. A verdade reside em
muitos exemplos. De todos escolhi uma linda canção de Ancha Martins. O tema
central da música é KHOMBO, ou melhor “azar”. E a lição-exemplo resume-se no
seguinte: Quando ouves que há um azar no vizinho é sinal de que ele está
próximo de si, ou da sua família, preocupe-se.
Acontece que no caso concreto dói-me mais porque a CAUSA do
azar é conhecida e é alimentada por nós. Por que razão temos que pagar impostos
que mantém um corpo policial que de repente em vez de nos defender,
elimina-nos? Elimina-nos de “de qualquer maneira” levando-me a num
questionamento similar ao Mabessa: “Para que?”. É imperioso um novo pacto
social com esta PRM!
2. O IMPERATIVO DE UM NOVO PACTO SOCIAL
COM A PRM – Polícia da República de Moçambique
Não consigo ser enciclopedista para citar os deveres da PRM,
mas estou certo que a PRM possui no seu regulamento e nas suas atribuições uma
missão específica que não a cumpre nem pela metade. Volto a questionar: Será
que nós contribuímos para que a PRM nos mate a seu bel-prazer? A contabilizar
pelas mortes mais recentes:
a) A PRM assassinou a 19 de Junho Manuel
Domingos Ventura na cidade da Beira;
b) A mesma PRM assassinou Carlos
Chivambo no dia 03 de Julho corrente.
Patrícios! É isto a que faz com que o meu espírito seja
avesso, à injustiça e tanta falta de senso de humanidade. Decidiu exprimir
assim, NAO CONCORDO E NAO ME POSSO CALAR. Não me posso calar porque ao longo da
minha vida fui interiorizando princípios e convicções, sendo um deles: NÃO
MATAR. O meu fervor diante destas mortes continua, não consigo esquecer, muito
menos calar. Quando penso na vida e na dignidade humana coloco para mim mesmo
profundos questionamentos cujas soluções apontam para a necessidade de a
Sociedade civil moçambicana estabelecer um pacto com esta PRM. Os seus líderes
precisam corrigir a desconexão entre seus regulamentos e ações que levam a
cabo, pois há uma ausência TOTAL de consciencialização sobre o VALOR DA VIDA
HUMANA. Não há deontologia nem formação ético-profissional dos agentes que
lidam com questões da ordem e tranquilidade públicas.
Pessoalmente, fico arrepiado, indignado, quando me deparo com
um mendigo na rua, um doente mental jogado à sua sorte, e questiono:
"aquele individuo já foi um bebé, quando nasceu houve alegria dos pais e
familiares porque está hoje abandonado?" E Por que a Polícia não pode
pensar igual ou similarmente antes de crivar balas inocentes a pessoas também
inocentes? Com que autoridade, deliberadamente, esses tipos tiram a vida aos
outros? Onde é que está a Polícia que devia combater o crime se ela mesmo é
criminosa? Sou levado a pensar que é melhor que a humanidade acabe. Hoje mesmo.
E fiquem as balas, as armas, todos os objetos mortíferos a ocuparem o espaço na
terra. Começo a pensar que se calhar, esta terra devia ser habitada apenas pela
polícia. E nós, o povo, a sociedade civil num outro espaço sem balas. Sem dor.
Sem medo. Sem dirigente nem dirigido.
Senhores dirigentes, dirijam a nossa vida e não a nossa
morte. Queremos paz para os vivos para podermos cuidar dos mortos. Esses já são
defuntos. E estão lá, à luz da nossa cumplicidade. Matamos todos nós. Este
grito tem que ter eco. Tem que voar mais alto como as almas dos finados: Hélio
Muianga, Manuel Domingos Ventura e Carlos Chivambo (que Deus os tenha!). Diante
destes fatos a nossa insatisfação pela atual PRM é imediata. O nosso grito não
pode ser crivado por nada mais que não seja o cessar-fogo contra os indefesos.
O nosso grito é alma do povo. E a alma sobrevive de todas as balas. Senhores da
PRM, parem imediatamente de nos matar, somos gente inocente, temos direitos à vida.
Parem de matar a alma dos vivos e a alma dos mortos.
Aguardamos melhorias da vossa atuação, enquanto e enquanto
isso, acompanhem-nos na leitura de um trecho de Martin Luther King. É o trecho
que vamos usar para responder ao não cumprimento do pacto social que vos
propomos. À luz do mesmo trecho vale recordar que, para convosco, vossos crimes
hediondos contra o povo, fomos durante anos COBARDES, COMODISTAS E ELEGANTES e
continuamos a morrer só que:
“Chega uma altura em que temos de tomar uma posição
que não é segura, não é elegante, não é popular, mas temos que o fazer porque a
nossa consciência nos diz que é essa a atitude correta".
Vai chegar a hora em que o povo moçambicano tomará a
«posição» não «segura», nem «elegante», mas a única forma e a única «atitude correta»
de nos vermos livres do crime policial.
NAO CONCORDO E NÃO ME POSSO CALAR!
Até
breve!
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ReplyDeleteExcelente artigo meu amigo. As injustiças do sistema policial tem sido recorrente em Moçambique. Alice Mabote por várias vezes denunciou as mortes cometidas pela PRM e que nada acontece em termos de justiça. Aliás, em muitos casos são transferidos para outros locais de trabalho. É a justiça que o MINT faz para estes casos. Um aspecto que gostaria de adicionar ao seu artigo e a questão da seleção e vocação das pessoas que vão a Policia. Muitas vezes o seu passado é tenebroso em termos de conduta moral e em alguns vão a formação com níveis de violência comportamental elevados. Não gostaria de ser mais radical, mas urge referir que há casos até de consumidores de drogas que se alistam na PRM. Algumas são pessoas que se sentem poderosas portando uma arma e em muitas ocasiões não sabe quando devem usa-la. É caso para dizer coitadinho da sociedade moçambicana que é obrigada a conviver com esta impunidade precária numa sociedade que diz ser Estado de Direito. A Sociedade Civil esta deve ser mais actuante nestes casos exercendo uma pressão forte para que os criminosos sejam responsabilizados. Continue a nos brindar com as suas críticas e comentários, só assim é que estaremos a exercer efectivamente a cidadania. Abraços
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