TUDO teve como ponto de partida os passeios, regra geral
defronte de padarias, onde os mais atentos ao negócio, descobriram que podiam
fazer um casamento perfeito entre o pão e a
“bajia”, um pastel caseiro feito na base de feijão cafreal.
A ideia era, ao mesmo tempo que se ganhava o dinheiro,
proporcionar um pequeno-almoço mais “nutritivo” a quem tivesse somente o pão
para matar a fome, que às primeiras horas da manhã, apoquenta a qualquer que
seja.
Hoje, o negócio evoluiu de tal forma que, na zona baixa da
capital do país, surgem a cada dia, inovações atrás de inovações tudo na busca
de rendimento nuns casos e de sustentabilidade noutros.
Vende-se um pouco de tudo, desde o pão, a “bajia”, o chá,
passando pelos enlatados russian (Rachen), chouriço, palony, ovos, batata,
pregos, queijo, bolos dos mais diversos tipos e sabores e até a sopa. Os mais
agressivos usam suas viaturas para contemplarem maior número possível de
clientes em pouco tempo. É que entre ficar numa esquina à espera do cliente e
ir ao encontro deste, há uma diferença em termos de negócio.
Quase todos os pratos são confeccionados mesmo no
local como forma de dar ao cliente algo ainda quente. Os clientes são
trabalhadores da zona baixa que vivendo longe, muito cedo se fazem à cidade,
sem que tenham tido tempo para tomar o pequeno almoço. São nalguns casos
funcionários, condutores de chapas, taxistas, cobradores, vendedores
ambulantes, alunos e transeuntes.
Quando o frio aperta há
espaço para inovação
Mesmo os que se dedicavam à venda de pão e refrigerantes, com
a chegada do inverno viram-se obrigados a inovar para servirem maior número
possível de clientes. Lina Almeida já há muito que é vendedeira informal. O
refrigerante era o seu único produto. Mas, com o frio descobriu que pouco
rendimento conseguia e pensou em algo que fizesse diferença nas suas finanças.
O seu ponto é a terminal de chapas da Praça dos Combatentes-Baixa.
Seus clientes eram diversificados, desde taxistas, chapeiros,
cobradores, passageiros, transeuntes e até os que vendem nas imediações. Pensou
em algo que pudesse atrair os clientes nas manhãs e lhe trazer mais dinheiro: a sopa.
Por dia faz 30 litros de sopa e leva-nos diariamente de
balde, num chapa para a sua esquina onde com recurso a um fogão à carvão aquece
e vende aos seus clientes das sete as nove horas. Finda jornada, vai à compra
de ingredientes do dia seguinte e cuida dos trabalhos caseiros. É com aquele
pequeno negócio que sustenta a sua filha e dois sobrinhos. Consegue ainda
algumas realizações que marcam pela positiva a sua vida. Seu sonho é ter um
espaço condigno e poder confeccionar e diversificar os seus produtos.
Se há quem já inovou no seu negócio, em função do tempo,
outros ainda pensam em diversificar. Argentina Alfredo é outra entrevistada que
se dedica à venda de refeições em diversos pontos da cidade de Maputo. Começou
a sua actividade vendendo refeições para o pequeno-almoço em empresas da Baixa
e de tempos em tempos foi conquistando muitos clientes.
Contou que faz a sua actividade há mais de 10 anos e do fruto
do negócio comprou três viaturas duas das quais circulam pela cidade com
paragens em pontos já específicos, onde os clientes vão à hora do
pequeno-almoço.
As noites são reservadas para a confecção de bolos, temperar
as carnes para logo as três da manha iniciar a preparação de outros
acompanhantes do pão de forma a garantir que o produto chegue a tempo e hora ao
cliente.
Um fogão aqui e acolá com jovens prontos a confeccionar e a
servir os clientes vai se multiplicando esquina em esquina. Num dos pontos da
cidade ouvimos um vendedor anónimo que diz ter os polidores como clientes
favoritos dai a escolha do ponto em que trabalha que é junto a um grande local
de estacionamento de carros.
Por dia prepara no mínimo três sacos de batata. O
período de tarde é de alta pois, é quando mais comida se vende. Um prato de
batata sai a 40 meticais e o cliente é que decide se compra somente a batata ou
se leva também o pão para o acompanhamento.
Ardinas: O outro
mercado fértil
Nas imediações do Noticias é tradição a venda de chá para
aqueles que logo às primeiras horas da manhã têm a obrigação de levar a
informação aos leitores, faça sol, faça chuva: os ardinas. Só que, à semelhança
de outros negócios, este cresceu e para além dos ardinas muito mais gente se
abastece neste ponto que passou a ser de referência somente nas manhãs.
O negócio começou com apenas uma pessoa, mas de tempos em
tempos foi notório o crescimento do número de vendedores que viram as
imediações do Noticias como terreno fértil para os seus negócios.
Soubemos que a demanda se revela cada vez maior, sobretudo
nos dias em que o jornal se faz tarde à sede do matutino. A entrada em
funcionamento da nova rotativa no município da Matola teria reduzido de forma
significativa o número de ardinas, mas os vendedores dizem não se desesperarem
porque aquele é que é o seu ganha-pão.
Do chá, que é um imperativo nas madrugadas frias já se vende
um pouco de tudo. O pão, as chamussas, mandioca cozida.
A venda do pequeno-almoço nas ruas de Maputo até se faz de
geração em geração. Há vendedeiras que herdaram das suas mães os lugares e o
tipo de negócio e hoje sentem-se calejadas com o trabalho que resulta de anos
de experiência.
Dininha Mainga começou por trabalhar com a sua mãe e hoje
está em condições de lavar a actividade avante, mesmo sozinha. Sente-se
satisfeita por poder garantir o material escolar das crianças sem nenhum
problema.
Há quem se alimenta nas ruas da baixa, mas com vergonha do
que faz. Mas porque com fome não há vergonha há os que vão sem nenhum receio.
Dionísio diz recorrer à batata frita nos passeios e pão para matar a fome
sempre que dispor de dinheiro e faz sempre no mesmo local, pois sai muito cedo
e por conseguinte sem comer nada.
In Jornal Noticias, edição online (Maputo, Sábado, 16 de Junho de 2012)
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