Tuesday, December 18, 2012

NATAL, CARIDADE E JUSTIÇA SOCIAL: Façam isso da vossa missão diária!



Escrevi ontem uma recordação a mim mesmo, através duma curta mensagem no meu portal do facebook, (https://www.facebook.com/manecas.tiane). A mensagem recordação é esta, “TEMPOS DE ADVENTO: É isso Tiane, o tempo é de advento!”
No fundo, independentemente das variantes da nossa fé, há sempre um advento, um renovar de esperanças, uma nova etapa que aí vem. Seja pelo Natal Cristão, Natal Agnóstico, ou outro qualquer, as festividades em curso, com marco central nos dias 25 de Junho e 01 de Janeiro, colocam-nos sempre diante de balanços e adventos, uns mais caóticos como parece-me que será nalguns países, devido ao agudizar da crise económica e financeira, outros de total indefinição, outros ainda de total incerteza, podendo ser positivo ou negativo.
Os discursos de gente autorizada ou influente na sociedade fazem igualmente eco por estas alturas:
De Moçambique tomei somente duas notas informativas. A primeira circunscrevia-se a necessidade de reforçar-se a fiscalização, sobretudo de preços, sendo naturalmente de disponibilidade, ao que acrescento eu de que eventualmente de qualidade.
Uma segunda nota, foi a questão de segurança, o comandante prometeu igualmente mais segurança para este período.
Dentro da igreja Católica, veio outra mensagem forte, titulo desta curta reflexão. O Papa defende um Natal, mas não só um Natal, um todo advento de complementaridade entre a Caridade e Justiça Social.

CONCLUINDO
A satisfação de todos estes desejos, das autoridades políticas, económicas, e eclesiásticas era o fim das dificuldades de todos nós. Esta vontade, de um bom Natal, de maior complementaridade entre a Caridade e Justiça Social leva-me também a questionar se os seus difusores têm pensado seriamente, e de espírito envolvido no que desejam e prometem? Gostava ainda mais que, além de buscar reforçar, porque o tempo é de advento, fizessem isso como vosso compromisso quotidiano e não de um ciclo. Como disse uma fiel, hoje num canal televisivo e tocou-me profundamente caridade é respeitar direitos do próximo, justiça é respeitar direito de toda humanidade. Algo que é uma tarefa por fazer.

FONTES CONSULTADAS



http://www.agencia.ecclesia.pt/cgi-bin/noticia.pl?&id=93732
TIANO, Manuel
Aveiro, 18 de Dezembro de 2012

Tuesday, November 20, 2012

NÃO ERA A PRIMEIRA VEZ QUE O RAPAZ FOTOGRAFAVA O MOTORISTA!



Crónica de um passeio em Aveiro


Ontem decidi dar um passeio de autocarro. Ainda que pareça caricato eu não sabia onde devia exatamente descer, sabia que no fim de tudo devia estar na Zona Industrial. O impasse sobre a paragem prolongou-se no meu diálogo com o motorista, não só pelo interesse de não perder-me, como para poupar no custo do bilhete. O motorista por seu turno respondeu sobre os dois locais que associei com o meu destino provável o seguinte:

- Não sei amigo, eu também não sou de cá. A zona industrial não vamos a nenhuma, mas passamos sim por...

Cá comigo, devolvi aquela sensação amargurada do motorista com um pouco de humor…”Vamos jogar a lotaria…talvez desta nos saia todos o prémio” Na verdade sou muito compassivo para com os mais velhos, sobretudo nestas profissões que a história associa com o sacrifício e maus salários. Entretanto eu sou quem tem precisado de muito cuidado. Após duas paragens, lá vinha outra passageira aflita.

- O autocarro passa por….

O motorista retorquiu a senhora com falta de piedade nunca imaginada, diante da confusão que existe aqui na cidade pela mudança das rotas, linhas, horários dos transportes públicos e semi-publicos e notei parte do discurso

- Isso é no escritório! Vem aqui abusar…..

Naquela minha forma pedagógica de abordar as coisas, senti-me obrigado a intervir. Esclarecendo-o que para nós, passageiros, os motoristas são os representantes da empresa, e que o diálogo com eles era mais confortável que o escritório. Confessei ainda que não sabia onde era o escritório daquela companhia e sempre me socorri nos motoristas…e depois continuamos calmamente a viajar até que entrou o melhor passageiro da viagem.

Tratava-se de um menino com cerca de 8 anos. Já põe óculos para compensar/corrigir algum problema de vista. Ele como muitos, exprime as tendências do tempo, é “geração tecla e click”. Enquanto ele mostrava seu livre- passe, tirou um foto ao motorista com o seu telemóvel, mas a face dele deixou-me perceber que não tinha sido bem-sucedido. Pensei muitas outras coisas, incluindo uma espécie de admiração do petiz pelos motoristas. Depois parei de pensar, porque o rapaz passou la para os bancos traseiros.

Passados alguns, minutos.

Eis que o rapaz reaparece, senta-se nos bancos de frente e posiciona-se para o que se pensou ser o desembarque e o motorista perguntou-o sobre onde ele pretendia descer? Enquanto respondia, tirava o que me pareceu ser a sua melhor foto da viagem…precisavam ver como eu vi. Voltei a pensar e a questionar-me. Será neto dele? Familiar? O rapaz fotografava com uma segurança fenomenal. Não tardou a reação do motorista.

- Vamos combinar uma coisa. Da próxima vez que me quiseres tirar umas fotos terás que me pedir autorização. Pois que é a segunda vez que fazes isso.

O rapaz retorquiu afirmativamente com a cabeça…e passava mais uma paragem eu e ele descemos.  Interessou-me questiona-lo, porque é que ele sacou as fotos. Eu sou mais tímido que ele, não o fiz. Por outro lado, pensei que a minha atitude, o questionamento da razão, levaria à inibição de uma forma de ser que até admirei. Fiquei por tirar muitas conclusões, afinal era a segunda vez que o rapaz lançava um click sobre o motorista.

Aveiro, 20/11/12

Friday, August 31, 2012

As últimas trincheiras


Por Boaventura de Sousa Santos

 Quem poderia imaginar há uns anos que partidos e governos considerados progressistas ou de esquerda abandonassem a defesa dos mais básicos direitos humanos, por exemplo, o direito à vida, ao trabalho e à liberdade de expressão e de associação, em nome dos imperativos do “desenvolvimento”?
Acaso não foi por via da defesa desses direitos que granjearam o apoio popular e chegaram ao poder? Que se passa para que o poder, uma vez conquistado, se vire tão fácil e violentamente contra quem lutou para que ele fosse poder? Por que razão, sendo um poder das maiorias mais pobres, é exercido em favor das minorias mais ricas? Porque é que, neste domínio, é cada vez mais difícil distinguir entre os países do Norte e os países do Sul?
Nos últimos anos, os partidos socialistas de vários países europeus mostraram que podiam zelar tão bem pelos interesses dos credores e especuladores internacionais quanto qualquer partido de direita, não parecendo nada anormal que os direitos dos trabalhadores fossem expostos às cotações das bolsas de valores e, portanto, devorados por elas. Na África do Sul, a polícia ao serviço do governo do ANC, que lutou contra ao apartheid em nome das maiorias negras, mata 34 mineiros em greve para defender os interesses de uma empresa mineira inglesa. Bem perto, em Moçambique, o governo da Frelimo, que conduziu a luta contra o colonialismo português, atrai o investimento das empresas extractivistas com a isenção de impostos e a oferta da docilidade (a bem ou a mal) das populações que estão a ser afectadas pela mineração a céu aberto. Na Índia, o governo do partido do Congresso, que lutou contra o colonialismo inglês, faz concessões de terras a empresas nacionais e estrangeiras e ordena a expulsão de milhares e milhares de camponeses pobres, destruindo os seus meios de subsistência e provocando um enfrentamento armado. Na Bolívia, o governo de  Evo Morales, um indígena levado ao poder pelo movimento indígena, impõe, sem consulta prévia, a construção de uma auto-estrada em território indígena para escoar recursos naturais. No Equador, o governo de Rafael Correa acaba de ser condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos por não ter garantido os direitos do povo indígena Sarayaku em luta contra a exploração de petróleo nos seus territórios. 
Em 2011, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) solicita ao Brasil, mediante uma medida cautelar, que suspenda imediatamente a construção da barragem de Belo Monte até que sejam adequadamente consultados os povos indígenas por ela afectados. O Brasil protesta contra a decisão, retira o seu embaixador na OEA, suspende o pagamento da sua cota anual à Organização dos Estados Americanos (OEA), retira o seu candidato à CIDH e toma a iniciativa de criar um grupo de trabalho para propor a reforma da CIDH e diminuir os seus poderes de questionar os governos sobre violações de direitos humanos. A suspensão da construção da barragem acaba agora de ser decretada pelo Tribunal Regional Federal com base na falta de estudos de impacto ambiental.
Para responder às questões com que comecei esta crónica vejamos o que há de comum entre todos estes casos. Todas as violações de direitos humanos estão relacionadas com o neoliberalismo, a versão mais anti-social do capitalismo nos últimos cinquenta anos. No Norte, o neoliberalismo impõe a austeridade às grandes maiorias e o resgate dos banqueiros, substituindo a protecção social dos cidadãos pela protecção social do capital financeiro. No Sul, o neoliberalismo impõe a sua avidez pelos recursos naturais, sejam eles os minérios, o petróleo, o gás natural, a água ou a agro-indústria. Os territórios passam a ser terra e as populações que nelas habitam, obstáculos ao desenvolvimento que é necessário remover quanto mais rápido melhor. Quando a democracia concluir que não é compatível com este tipo de capitalismo e decidir resistir-lhe, pode ser demasiado tarde. É que, entretanto, pode o capitalismo ter já concluído que a democracia não é compatível com ele.
In Jornal Savana, 24, 08 ,2010

COMENTÁRIOS E DEBATES SUGERIDOS
Muitos comentários podíamos levantar sobre esta leitura, a começar pelo título, As últimas trincheiras, será que a guerra terminou, ou se vislumbram vencidos.

Interessante neste texto é notar como no primeiro parágrafo Boaventura de Sousa Santos evidencia o distanciamento do novo paradigma desenvolvimentista com supressão de ingredientes deste processo tomando em conta o conceito das Nações Unidas [development is a comprehensive economic, social, cultural and political process, which aims at the constant improvement of the well-being of the entire population and of all individuals on the basis of their active, free and meaningful participation in development and in the fair distribution of benefits resulting therefrom, (UN, 1986) ]. Afinal, os básicos direitos humanos cabem ou não no conceito de Desenvolvimnto?

O texto é tão atual que no leque de questionamentos cobre inclusivamente os recentes acontecimentos da vizinha África do Sul nas minas de Marikana, (um tema que promete acesas reflexões no campo da justiça social….sobre este caso, as últimas notícias indicam que os massacrados mineiros são hoje reús diante dos tribunais sul africanos). Questiona-se igualmente o processo de atração de investimento em Moçambique com isenção de impostos, a baixa qualidade dos reassentamentos nas áreas de mineração e toda a responsabilidade social e estadual para que no fim o principio de win-win ocorra entre os stakeholders.

Por outro lado, num pronunciamento recente de uma entidade religiosa portuguesa, D. Carlos Azevedo exigia dos políticos locais uma nova pedagogia diante da problemática da crise do desenvolvimento, ou seja, “O que mais é preciso, neste momento, é pedagogia social, para ensinar as pessoas a viver de outra maneira, para ajudar as pessoas a deixar de pensar que isto vai passar e vamos voltar ao antigamente”, disse o prelado à Rádio Renascença.

Esta é a leitura que vos sugerimos com muita expectativa de debate em volta de temas como Socialismo, Estado Bem Estar Social entre outros.





Friday, July 13, 2012

EMPRÉSTIMO DA VERDADE




....Moçambique está neste momento, hoje 13 de Julho de 2012, a consumir o nosso grito e a gritar connosco. Porque é este o momento recitado na lendária música "We are the World"

"There comes a time

when we need a certain call.
When the world must come together as one. 
There are people dying.
Oh it's time to lend a hand to life.
The greatest gift of all."


O Jornal "A Verdade" fez eco do nosso grito por soccorro http://politicaesociedades.blogspot.pt/2012/07/nao-concordo-e-nao-me-posso-calar-o.html  e isso conta e muito!
Voltaremos em breve
TIANO, Manuel

Saturday, July 7, 2012

NAO CONCORDO, E NAO ME POSSO CALAR: O imperativo de um novo pacto com a PRM!



Eu tenho muitos amigos nesta vida fora. Uns tantos, tenho-os aqui nas redes socias. A título exemplificativo, 570 militam comigo no Facebook. Outros, em foros de diversa índole. Trata-se, em parte, dos mesmos amigos da vida corrente que os congreguei nas viagens cibernéticas, numa vida inicialmente chancelada de virtual, mas que de virtualidade nada tem, pelo contrário é real, rápida e dá-nos um amplo leque de possibilidades de comunicar e interagir, partilhando vida e suas emoções. Surpreendentemente, de todos meus amigos, apenas 10 conseguiram juntar-se com prontidão excecional a recitação (protótipo deste texto) de indignação com relação à atuação da nossa PRM – Polícia da República de Moçambique.


Quero agradece-los, publicamente, tal como também o fizeram. Fá-lo porque demonstraram coerência ao usar a via mais discreta, dando um simples “clic” ao sinal, LIKE/GOSTO do STATUS/ESTADO em que me encontrava. Alguns fizeram-no até por discurso simples, mas, quanto a mim, cheio de significado. Kanimambo, mesmo de coração. Agradeço, igualmente, aos que permaneceram em silêncio; o seu silêncio tem valor comunicativo muito profundo. Pode significar revolta silenciosa, o que é mais suspeito e mais perigoso do que falar publicamente. Aos que não falam não se lhes pode dar a total confiança de inocência. Pelo contrário, estão fartos da cumplicidade. Na verdade, os que se calam sem consentir giram juntamente connosco nesta órbita de exaltação, neste grito cujo eco não cessará antes que a polícia deixe de exterminar o povo inocente. Entretanto, diante de um grito por socorro, uma atitude silenciosa é tão criminosa, quanto a PRM está sendo contra o povo moçambicano.

1. NYANDAYEYO!!!... (SOCORRO!!!...)

Nyandayeyó é a expressão mais profunda de pedido de socorro. Não se brinca por gritar, Nyandayeyó. Trata-se de uma voz carregada de vozes, de lágrimas, de desespero, de medo e agonia. É a força mais natural, tradicional e expressivamente profunda de acionar o alarme de emergência pedindo caridade às autoridades, ao sistema, para que cesse os tormentos, as mortes violentas. Só que, contrariando o que é tradicional atualmente nas comunidades moçambicanas, a resposta não aparece. Mas ela devia ser imediata.
O sentido antropológico do Nyandayeyó está a ser adulterado, não sei por que razão! Os meus vizinhos, as pessoas de boa vontade, e outras gentes deviam afluir com todas as suas forças e meios, tal como era suposto que a PRM, os Bombeiros, ambulâncias, aparecesse para se inteirarem e ajudar até que se alcance o, CESSANTE CAUSA, CESSAT EFFECTUS. Só que, ultimamente, algo estranho acontece. Ninguém responde ao Nyandayeyó. Isso não simboliza a utopia de uma sociedade sã? Não há Unidade, nem solidariedade! As pessoas morrem diante da nossa cumplicidade. Será que não sentimos a culpa da indiferença? Quando se grita Nyandayeyó, as pessoas pensam que o problema é dos outros, ficam indiferentes e, nalguns casos, a indiferença faz-se com alegria e festa. Isso cria-me raiva e indignação. Muitas almas enganadas. Só que tanto os que se calam, como os que festejam precisam saber uma verdade. A verdade reside em muitos exemplos. De todos escolhi uma linda canção de Ancha Martins. O tema central da música é KHOMBO, ou melhor “azar”. E a lição-exemplo resume-se no seguinte: Quando ouves que há um azar no vizinho é sinal de que ele está próximo de si, ou da sua família, preocupe-se.
Acontece que no caso concreto dói-me mais porque a CAUSA do azar é conhecida e é alimentada por nós. Por que razão temos que pagar impostos que mantém um corpo policial que de repente em vez de nos defender, elimina-nos? Elimina-nos de “de qualquer maneira” levando-me a num questionamento similar ao Mabessa: “Para que?”. É imperioso um novo pacto social com esta PRM!

2. O IMPERATIVO DE UM NOVO PACTO SOCIAL COM A PRM – Polícia da República de Moçambique

Não consigo ser enciclopedista para citar os deveres da PRM, mas estou certo que a PRM possui no seu regulamento e nas suas atribuições uma missão específica que não a cumpre nem pela metade. Volto a questionar: Será que nós contribuímos para que a PRM nos mate a seu bel-prazer? A contabilizar pelas mortes mais recentes:

    a) A PRM assassinou a 19 de Junho Manuel Domingos Ventura na cidade da Beira;
   b) A mesma PRM assassinou Carlos Chivambo no dia 03 de Julho corrente.

Patrícios! É isto a que faz com que o meu espírito seja avesso, à injustiça e tanta falta de senso de humanidade. Decidiu exprimir assim, NAO CONCORDO E NAO ME POSSO CALAR. Não me posso calar porque ao longo da minha vida fui interiorizando princípios e convicções, sendo um deles: NÃO MATAR. O meu fervor diante destas mortes continua, não consigo esquecer, muito menos calar. Quando penso na vida e na dignidade humana coloco para mim mesmo profundos questionamentos cujas soluções apontam para a necessidade de a Sociedade civil moçambicana estabelecer um pacto com esta PRM. Os seus líderes precisam corrigir a desconexão entre seus regulamentos e ações que levam a cabo, pois há uma ausência TOTAL de consciencialização sobre o VALOR DA VIDA HUMANA. Não há deontologia nem formação ético-profissional dos agentes que lidam com questões da ordem e tranquilidade públicas.

Pessoalmente, fico arrepiado, indignado, quando me deparo com um mendigo na rua, um doente mental jogado à sua sorte, e questiono: "aquele individuo já foi um bebé, quando nasceu houve alegria dos pais e familiares porque está hoje abandonado?" E Por que a Polícia não pode pensar igual ou similarmente antes de crivar balas inocentes a pessoas também inocentes? Com que autoridade, deliberadamente, esses tipos tiram a vida aos outros? Onde é que está a Polícia que devia combater o crime se ela mesmo é criminosa? Sou levado a pensar que é melhor que a humanidade acabe. Hoje mesmo. E fiquem as balas, as armas, todos os objetos mortíferos a ocuparem o espaço na terra. Começo a pensar que se calhar, esta terra devia ser habitada apenas pela polícia. E nós, o povo, a sociedade civil num outro espaço sem balas. Sem dor. Sem medo. Sem dirigente nem dirigido.

Senhores dirigentes, dirijam a nossa vida e não a nossa morte. Queremos paz para os vivos para podermos cuidar dos mortos. Esses já são defuntos. E estão lá, à luz da nossa cumplicidade. Matamos todos nós. Este grito tem que ter eco. Tem que voar mais alto como as almas dos finados: Hélio Muianga, Manuel Domingos Ventura e Carlos Chivambo (que Deus os tenha!). Diante destes fatos a nossa insatisfação pela atual PRM é imediata. O nosso grito não pode ser crivado por nada mais que não seja o cessar-fogo contra os indefesos. O nosso grito é alma do povo. E a alma sobrevive de todas as balas. Senhores da PRM, parem imediatamente de nos matar, somos gente inocente, temos direitos à vida. Parem de matar a alma dos vivos e a alma dos mortos.
Aguardamos melhorias da vossa atuação, enquanto e enquanto isso, acompanhem-nos na leitura de um trecho de Martin Luther King. É o trecho que vamos usar para responder ao não cumprimento do pacto social que vos propomos. À luz do mesmo trecho vale recordar que, para convosco, vossos crimes hediondos contra o povo, fomos durante anos COBARDES, COMODISTAS E ELEGANTES e continuamos a morrer só que:

“Chega uma altura em que temos de tomar uma posição que não é segura, não é elegante, não é popular, mas temos que o fazer porque a nossa consciência nos diz que é essa a atitude correta".

Vai chegar a hora em que o povo moçambicano tomará a «posição» não «segura», nem «elegante», mas a única forma e a única «atitude correta» de nos vermos livres do crime policial.
NAO CONCORDO E NÃO ME POSSO CALAR!
Até breve!

Saturday, June 16, 2012

O que o pão gerou na baixa de Maputo!


TUDO teve como ponto de partida os passeios, regra geral defronte de padarias, onde os mais atentos ao negócio, descobriram que podiam fazer um casamento perfeito entre o pão e a  “bajia”, um pastel caseiro feito na base de feijão cafreal.

A ideia era, ao mesmo tempo que se ganhava o dinheiro, proporcionar um pequeno-almoço mais “nutritivo” a quem tivesse somente o pão para matar a fome, que às primeiras horas da manhã, apoquenta a qualquer que seja.

Hoje, o negócio evoluiu de tal forma que, na zona baixa da capital do país, surgem a cada dia, inovações atrás de inovações tudo na busca de rendimento nuns casos e de sustentabilidade noutros.

Vende-se um pouco de tudo, desde o pão, a “bajia”, o chá, passando pelos enlatados russian (Rachen), chouriço, palony, ovos, batata, pregos, queijo, bolos dos mais diversos tipos e sabores e até a sopa. Os mais agressivos usam suas viaturas para contemplarem maior número possível de clientes em pouco tempo. É que entre ficar numa esquina à espera do cliente e ir ao encontro deste, há uma diferença em termos de negócio.

Quase todos os pratos são confeccionados mesmo no local como forma de dar ao cliente algo ainda quente. Os clientes são trabalhadores da zona baixa que vivendo longe, muito cedo se fazem à cidade, sem que tenham tido tempo para tomar o pequeno almoço. São nalguns casos funcionários, condutores de chapas, taxistas, cobradores, vendedores ambulantes, alunos e transeuntes.





Quando o frio aperta há espaço para inovação

Mesmo os que se dedicavam à venda de pão e refrigerantes, com a chegada do inverno viram-se obrigados a inovar para servirem maior número possível de clientes. Lina Almeida já há muito que é vendedeira informal. O refrigerante era o seu único produto. Mas, com o frio descobriu que pouco rendimento conseguia e pensou em algo que fizesse diferença nas suas finanças. O seu ponto é a terminal de chapas da Praça dos Combatentes-Baixa.

Seus clientes eram diversificados, desde taxistas, chapeiros, cobradores, passageiros, transeuntes e até os que vendem nas imediações. Pensou em algo que pudesse atrair os clientes nas manhãs  e lhe trazer mais dinheiro: a sopa.

Por dia faz 30 litros de sopa e leva-nos diariamente de balde, num chapa para a sua esquina onde com recurso a um fogão à carvão aquece e vende aos seus clientes das sete as nove horas. Finda jornada, vai à compra de ingredientes do dia seguinte e cuida dos trabalhos caseiros. É com aquele pequeno negócio que sustenta a sua filha e dois sobrinhos. Consegue ainda algumas realizações que marcam pela positiva a sua vida. Seu sonho é ter um espaço condigno e poder confeccionar e diversificar os seus produtos.
    
Se há quem já inovou no seu negócio, em função do tempo, outros ainda pensam em diversificar. Argentina Alfredo é outra entrevistada que se dedica à venda de refeições em diversos pontos da cidade de Maputo. Começou a sua actividade vendendo refeições para o pequeno-almoço em empresas da Baixa e de tempos em tempos foi conquistando muitos clientes.

Contou que faz a sua actividade há mais de 10 anos e do fruto do negócio comprou três viaturas duas das quais circulam pela cidade com paragens em pontos já específicos, onde os clientes vão à hora do pequeno-almoço.

As noites são reservadas para a confecção de bolos, temperar as carnes para logo as três da manha iniciar a preparação de outros acompanhantes do pão de forma a garantir que o produto chegue a tempo e hora ao cliente.

Um fogão aqui e acolá com jovens prontos a confeccionar e a servir os clientes vai se multiplicando esquina em esquina. Num dos pontos da cidade ouvimos um vendedor anónimo que diz ter os polidores como clientes favoritos dai a escolha do ponto em que trabalha que é junto a um grande local de estacionamento de carros.

Por dia prepara no mínimo três sacos de batata. O período de tarde é de alta pois, é quando mais comida se vende. Um prato de batata sai a 40 meticais e o cliente é que decide se compra somente a batata ou se leva também o pão para o acompanhamento.


Ardinas: O outro mercado fértil

Nas imediações do Noticias é tradição a venda de chá para aqueles que logo às primeiras horas da manhã têm a obrigação de levar a informação aos leitores, faça sol, faça chuva: os ardinas. Só que, à semelhança de outros negócios, este cresceu e para além dos ardinas muito mais gente se abastece neste ponto que passou a ser de referência somente nas manhãs.

O negócio começou com apenas uma pessoa, mas de tempos em tempos foi notório o crescimento do número de vendedores que viram as imediações do Noticias como terreno fértil para os seus negócios.
Soubemos que a demanda se revela cada vez maior, sobretudo nos dias em que o jornal se faz tarde à sede do matutino. A entrada em funcionamento da nova rotativa no município da Matola teria reduzido de forma significativa o número de ardinas, mas os vendedores dizem não se desesperarem porque aquele é que é o seu ganha-pão.

Do chá, que é um imperativo nas madrugadas frias já se vende um pouco de tudo. O pão, as chamussas, mandioca cozida.
A venda do pequeno-almoço nas ruas de Maputo até se faz de geração em geração. Há vendedeiras que herdaram das suas mães os lugares e o tipo de negócio e hoje sentem-se calejadas com o trabalho que resulta de anos de experiência.

Dininha Mainga começou por trabalhar com a sua mãe e hoje está em condições de lavar a actividade avante, mesmo sozinha. Sente-se satisfeita por poder garantir o material escolar das crianças sem nenhum problema.

Há quem se alimenta nas ruas da baixa, mas com vergonha do que faz. Mas porque com fome não há vergonha há os que vão sem nenhum receio. Dionísio diz recorrer à batata frita nos passeios e pão para matar a fome sempre que dispor de dinheiro e faz sempre no mesmo local, pois sai muito cedo e por conseguinte sem comer nada.

In Jornal Noticias, edição online (Maputo, Sábado, 16 de Junho de 2012)